sábado, 20 de agosto de 2016

19 | Poema dos que ficam

(Pensava eu)
que era de olhos fechados que melhor te via:
quando não havia mundo além da ideia de ti, 
quando estavas só onde te imaginava, 
por perto.

(Achava eu)
que havia qualquer coisa de curioso na forma como a realidade não te tocava,
apenas se aproximava em passos de lã
e se afastava de novo,
como espuma do mar,
temendo molhar as pontas do teu fato de matéria de sonho meu.

Mas quando abro os olhos e a luz entra,
continuas onde te deixei antes de os fechar,
ainda mais perto,
real como nunca antes,
ao alcance de uma palavra minha.

Talvez sejas feito de ilhas, e só se chega a ti de barco;
e eu ainda não sei bem remar, mas olha para mim enquanto tento.

Gosto que olhes para mim enquanto tento.

É nesses momentos,
nos que a realidade te abraça
- e me prova a mim que não te sonhei -
que eu tenho a certeza que o que te move não é uma mistura de convicções e vontades,
mas palavras bonitas,
como Sol e Reflexo,
e poesia que não é escrita.

Não és feito de coisas humanas, bem sei,
mas de nomes de terras por visitar,
uma mistura de caminhos, viagens, poemas e maracujás.
Gosto de ti, e gosto do que sou quando estou a gostar de ti, 
asas e raízes,
daquele jeito que julguei impossível,
ficar-partindo, permanecer-voando,
metade pássaro para metade planta.

E gosto
(sobretudo)
de descobrir que é de olhos abertos que melhor de te vejo,
como tudo o que de real merece ser visto,
bem de perto.

Pi.

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