sábado, 20 de agosto de 2016

14 | Em frente e a direito, Alasca

Tenho uma inveja quase dolorosa das pessoas que sabem por onde ir.
Há-as em todos os caminhos que cruzo, nos meus acasos sempre trapalhões e inesperados de quem não leva mapa nem leva a nada, a não ser a vontade de chegar a lado nenhum em especial. 
Desde que me lembro, nunca soube escolher caminhos na vida: se estou onde me encontro, é somente porque tropecei até aqui, quase infantilmente, por graça de todos os santos dos caminheiros não intencionais. Nunca decidi para onde iria a seguir, fui, e pronto. Isto sou eu, filha dos atalhos manhosos e pouco seguros que tanto podem acabar numa estrada sem fim ou numa rua sem saída. Eu não sei, nunca soube, nem me parece que algum dia venha a saber, o caminho certo para lado nenhum. 
Se é para Norte, dou três voltas ao quarteirão e acabo de costas para Galiza da minha escolha, se é para Sul, dou um passo em falso e lá estou eu, muito acima dos Algarves das minhas vontades que nunca param quietas.
Como se agarram vontades que não param quietas?
 Desde que me lembro, no que toca a decisões, sou desnorteada como uma toupeira à luz do dia. 
Tenho uma inveja quase dolorosa daqueles que sabem o número dos autocarros para todas as paragens da vida. Daqueles que trazem ensaiadas as coordenadas quase desde o ventre. Daqueles que desenham mapas na alma e partem em busca do caminho que traçaram por vontade deles mesmos, peritos em cartografia decisional. 
As minhas vontades são tapetes de arraiolos, entrançados em complexos jogos de linhas intercaladas que não têm começo nem fim. 
Como se desenrola um novelo de caminhos? 
Tenho uma inveja quase dolorosa das pessoas que são estradas em frente, pontes acessíveis, atalhos diretos, porque desde que me lembro fui sempre labirinto de paredes altas, tão altas que nem empoleirada em livros de poesia e sociologia consigo ver além dele. 
Como se sai do labirinto, Alaska? 

Eu gostava, só uma vez, de saber o caminho. 


Florence. 

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